Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

ADESTRAR CAVALOS - Paixão na vida de um PM


ADESTRAR CAVALOS - Paixão na vida de um PM
Foto: Sgt Junio Leal
 
Sargento Afonso faz da sua lida com os animais um aprendizado de vida
ADESTRAR CAVALOS - Paixão na vida de um PM
Foto: Sgt Junio Leal
 
"Eu converso com eles e eles entendem o que eu falo"
ADESTRAR CAVALOS - Paixão na vida de um PM
Foto: Sgt Junio Leal
 
"Deus entrega uma missão para cada pessoa"
ADESTRAR CAVALOS - Paixão na vida de um PM
Foto: Sgt Junio Leal
Ten-Cel Mac Dowell, Sargento Afonso e Cabo Ferreira, um trio que admira os cavalos

 
"Acredito que Deus entrega uma missão para cada pessoa. A minha, com certeza, foi a de cuidar e entender os cavalos." É assim que o Sargento José Afonso Alves da Costa define o trabalho que exerce, há 32 anos, no Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes - RCAT, como adestrador. O militar, que já criou cerca de 500 cavalos na Polícia Militar, foi reconvocado para a função e mostra toda sua dedicação e amor aos animais que, para ele, são parte de sua família.
A história do sargento começou quando ele tinha apenas quatro anos. "Morava em uma fazenda, em Teófilo Otoni, e sempre estive no meio dos animais. Entrei para a PMMG em 1977, mas já era vaqueiro", lembra. Assim que ingressou na Corporação, o sonho de estar ao lado dos cavalos continuou forte, mas ele foi atuar no 6º Batalhão, em Governador Valadares.
Sem esquecer a paixão pelos animais e mantendo firme a vontade de ser militar, o Sargento Afonso, sabendo da existência do RCAT, chegou ao limite e se deu um ultimato: ou entrava para o Regimento ou dava baixa e desistia de ser policial. "Cavalo é minha vida e usar farda a minha paixão. Se não pudesse unir minhas vocações, me dedicaria somente aos animais." Atendido o pedido, o militar ingressou na unidade em 1978 e de lá não saiu mais.
EXPERIÊNCIA PARA ADESTRAR
Casado e pai de três filhos, que, assim como ele, adoram os cavalos, o sargento coleciona troféus em sua casa. Ele tem vários cursos pela Federação Mineira de Hipismo, de instrutor de doma, e aproximadamente 200 estatuetas de diversas competições que participou. Sua filha, que hoje tem 22 anos, já ganhou vários torneios em campeonatos, mineiros e nacionais. O policial também ministra cursos de equitação, na unidade de reprodução do RCAT, na cidade de Florestal.
Esse currículo, segundo o policial, ajuda muito a exercer o trabalho, mas a paixão e o tempo que passo perto dos animais é o que realmente contam para entender os cavalos. "Cada animal tem uma índole, tem um jeito e perceber o sentimento de cada um demora tempo e paciência. Eu converso com eles e entendo o que eles querem", explica o policial, que abomina violência no adestramento: "Para ter que chicotear um cavalo ,eu prefiro me chicotear duas vezes."
Sempre pregando a harmonia para "amansar" os animais, o Sargento diz que gosta muito do encantador de cavalos, Monty Roberts, que é uma referência para ele. "Gosto muito de ver quem entende, admira os cavalos e que leva isso para suas atividades de adestrador. Na minha carreira lembro de uma égua, a Vaidade, e um cavalo, o Virtual, que foram um pouco mais difíceis de ensinar, mas todos aprendem se você colocar amor no trabalho", destaca o policial, que ainda explica, que, para um cavalo estar pronto para ir para as ruas auxiliar no policiamento, leva cerca de 12 meses.
Os animais mais mansos são separados para atuar no Centro de Equoterapia do Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes - Cercat. A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo como um meio de alcançar objetivos terapêuticos, pois age simultaneamente no sistema orgânico e psicológico, além de beneficiar o comportamento social. "O cavalo é tão bom que serve até para tratar de pessoas", ressalta, admirado, o sargento.
HISTÓRIAS
Tanto tempo trabalhando ao lado dos cavalos renderam muitas histórias ao Sargento Afonso, algumas emocionantes outras tristes. "Estou de segunda a segunda junto dos cavalos. Nos finais de semana, volto para Florestal para dar aulas de equitação em meu sítio. Os cavalos são meu ofício e também minha fonte de lazer."
De todas as situações que passou ao lado dos animais, uma, em especial, ele se emociona ao recordar. "Estava em Florestal e tínhamos 30 éguas prenhas. Uma delas ia dar à luz pela primeira vez. Quando chegou a madrugada e seu potro nasceu, todas as outras éguas foram para perto dela tentar pegar o filhote. Foi aí que uma das éguas, a mais experiente, se aproximou e fez uma barreira, protegendo a mãe e o filho, quem se aproximasse ela dava coices. Para mim, isso mostra como a natureza é sábia."
MOMENTOS DIFICÉIS
Apesar de ter vivido muitos momentos alegres, o sargento enumera algumas fatalidades que aconteceram nesses anos de trabalho. Para ele, sacrificar alguns cavalos ou ver potrinhos que nasciam mortos eram situações muito difíceis de lidar. "O cavalo para mim vem em primeiro lugar. Nesses 32 anos de RCAT, vi alguns morrerem e isso doía muito em mim, era como se um parente tivesse indo embora."
Lembrar a morte de dois animais foi algo muito triste para o militar. "Estávamos saindo de madrugada para um patrulhamento rotineiro, em 1986, e descíamos a Avenida Barbacena, em Belo Horizonte. Quando estávamos chegando na Avenida do Contorno, um motorista perdeu o controle da direção do carro e bateu em dois cavalos. Eles morreram na hora e aquilo foi muito difícil de superar."
RECONHECIMENTO
Basta andar pelo Regimento de Cavalaria para perceber o quanto o Sargento Afonso é querido pelos colegas. O Cabo Ferreira, que, segundo o próprio sargento, será seu sucessor, é um dos que se emocionam a falar do amigo. "Faltam adjetivos para falar do sargento, é meu mestre, como se fosse meu pai e é minha fonte de aprendizado. "
Para o ex-comandante do RCAT, Tenente-Coronel Mac Dowell, o policial é parte da unidade."Foi com ele que aprendi a saltar." O subcomandante do regimento, Capitão Giovanni Franco, também diz que o policial é muito importante para o bom serviço prestado pelo RCAT. "Temos um funcionário que se dedica e se entrega no trabalho, por gostar muito do que faz."
DE VOLTA A CASA
Em 2007, após 30 anos de serviços prestados na PMMG, o sargento viveu um dos momentos mais difíceis. "Quando vi que tinha cumprido meu trabalho e que era hora de partir foi como se o mundo caísse na minha cabeça. Fiquei muito triste, pois amo trabalhar no RCAT.". O período de tristeza durou pouco, pois, em 2008, ele foi reconvocado para continuar a atuar ao lado daqueles que para ele são a sua vida. "Se perguntarem se gosto mais de gente ou de cavalo, adivinhem o que eu vou responder?"

(Sheila de Ângelis)

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