Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Bombeiro dos resgates heroicos fora do combate.

A razão para a transferência da linha de frente para a retaguarda seria o pecado de "aparecer demais", o que teria provocado indisposição no alto comando dos bombeiros. "Ciúme de homem fardado é pior do que de mulher traída", justifica um integrante da corporação que não quer ser identificado.


Um homem de 45 anos, 27 deles como bombeiro, com mais de 80 cursos de gerenciamento de crise e de resgates. Responsável por incontáveis salvamentos de pessoas no período em que chefiou o Comando de Operações do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o coronel Cláudio Vinício Serra Teixeira agora passa os dias atrás de uma mesa ocupado com questões burocráticas da corporação. A razão para a transferência da linha de frente para a retaguarda seria o pecado de "aparecer demais", o que teria provocado indisposição no alto comando dos bombeiros. "Ciúme de homem fardado é pior do que de mulher traída", justifica um integrante da corporação que não quer ser identificado.

O isolamento de Teixeira começou a ser desenhado quando o militar ainda tinha patente de capitão. Em 1993, ficou famoso mundialmente graças ao resgate espetacular do jovem Mário César da Silva, na época com 18 anos de idade, que ameaçava se jogar de um prédio. Numa manobra de rapel, Teixeira se jogou no vazio e conseguiu agarrar o rapaz. Desde então, ele protagonizou dezenas de salvamentos.

Militares da corporação dizem que uma ala dos Bombeiros torcia o nariz para os feitos espetaculares de Teixeira. A mais recente e decisiva para a situação atual do coronel se deu em 28 de outubro de 2008. O pedreiro José Francisco da Silva, então com 63 anos, ficou com as duas pernas presas por um bloco de rocha de duas toneladas no fundo de uma cisterna de 25 metros de profundidade.

Ao redor do fosso, no Bairro Ouro Verde, na zona rural de Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a tentativa de resgate já durava mais de 30 horas. O país inteiro acompanhava pela televisão os trabalhos. Dezenas de jornalistas foram ao local, cercados por um número ainda maior de parentes, vizinhos e curiosos, alguns a orar por Deus. Mais uma vez, a coordenação do resgate estava com Teixeira, que já ocupava o posto de comandante do Departamento de Operações.

Segundo fontes da corporação, de repente, o celular do coronel tocou. O chamado era do Comando-Geral que buscava informações sobre o andamento do resgate. Depois de algumas explicações, Teixeira teria ouvido o seguinte: "Os trabalhos já estão demorando demais. Tira esse homem daí agora mesmo. Se precisar, corta as pernas dele", teria dito um coronel do outro lado da linha.

Teixeira decidiu perseverar ancorado na experiência em casos daquele tipo. Disse ao interlocutor que precisava retomar o trabalho na cisterna. Na ocasião, o coronel Teixeira comandava cerca de 30 homens que corriam contra o tempo. Um caminhão com mangueira de sucção chegou da cidade Santa Luzia, no outro extremo da Região Metropolitana.

Dentro da cisterna, o pedreiro estava consciente graças a balões de oxigênio. Os sinais vitais do acidentado eram monitorados pela equipe. Os trabalhos continuavam no poço estreito, com risco de desmoronamento. Um bombeiro teve a clavícula quebrada por um pedaço de manilha durante uma tentativa de chegar ao ponto onde o pedreiro estava.


Pouco tempo depois, outro telefonema do Comando-Geral reiterou a orientação para acelerar operação. Parentes chegaram a ser comunicados da iminência de amputação das pernas para viabilizar o içamento.

Apesar da pressão dos superiores, Teixeira apostou todas a fichas na retirada do pedreiro ileso e desobedeceu às ordens do comando. Seis horas mais tarde, o homem foi resgatado com apenas algumas escoriações.

Cerca de 15 dias depois, o coronel foi transferido para o Departamento de Recursos Humanos do Corpo de Bombeiros. Procurado, Teixeira não quis falar sobre o assunto.

O chefe da Assessoria de Comunicação do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Edgard Estevo da Silva, negou que o comando tenha mandado acelerar a operação de resgate do pedreiro, com sacrifício, se necessário, das pernas do acidentado. Também negou qualquer tipo de retaliação. Ele considerou as informações totalmente improcedentes.

Sobre a transferência do experiente oficial do comando operacional para o setor burocrático, o assessor reconheceu os méritos de Teixeira, e disse que a mudança de cargos é rotina na corporação. "O rodízio é uma prática cultural, salutar e desejável para dar oportunidades para todos". Hoje, o posto do Comando de Operações está sob responsabilidade do coronel Edson Hilário da Silva.

"Eles me tiraram inteiro de lá"

"Agradeço em primeiro lugar a Deus e depois ao coronel Teixeira e os bombeiros que me salvaram. Eu fiquei quase três dias no fundo daquela cisterna. Eles falaram com minha família que mandaram cortar minhas pernas, mas eles não desistiram de mim, me tiraram de lá machucado, mas inteiro". Assim, o pedreiro José Francisco da Silva, hoje com 66 anos, recorda-se daquele fim de tarde de 28 de outubro de 2008, quando foi resgatado após quase 36 horas preso no fundo de uma cisterna.


José, a mulher, Maria do Carmo Soares da Silva, de 60 anos, e o filho, José Aparecido da Silva, o "Nêgo", de 30 anos, portador de necessidades especiais e comportamento de uma criança, continuam a morar na mesma casa simples no Bairro São Francisco, na zona rural de Igarapé.


A família foi localizada pelo Hoje em Dia na última terça-feira. Após a notoriedade - a família chegou a ir a programas de televisão e ganhar eletrodomésticos -, a vida voltou à rotina.


Maria do Carmo diz que, na época, chegaram a prometer que a família receberia ajuda para uma reforma da casa, mas isso não aconteceu. Eles continuaram morando no mesmo lugar e seguindo com sua vida simples.


No entanto, quase ninguém se lembra mais do esforço e do trabalho dos bombeiros chefiados pelo coronel Teixeira, que tomaram decisões para o sucesso do resgate. "Falaram que teriam de cortar as pernas dele, mas os bombeiros não desistiram. Agradeço muito a Deus e os bombeiros por salvarem meu José", diz, emocionada, dona Maria.


Apesar da dramaticidade do incidente que quase custou a vida do pedreiro, José Francisco relembra alguns detalhes engraçados durante o salvamento. "A cisterna era muito estreita e desceram uns bombeiros grandões, que não conseguiam agachar. Eu é que tinha que pegar a água e o barro para encher os baldes", conta.
Outro detalhe foi o capacete que teve que usar enquanto aguardava o resgate. "Era para evitar que pedras acertassem a minha cabeça", explica. O pedreiro diz que um dos bombeiros teve a clavícula quebrada por um pedaço de manilha. "Era mais um perigo, mas não me acertaram, não. Saí ileso", frisa.


Com pequenas cicatrizes, mas com as duas pernas intactas, José Francisco diz que não sabe como iria fazer para continuar trabalhando e sustentar a casa, caso tivessem cortado suas pernas. "Ainda não consegui aposentar e tenho que trabalhar. Se eu estivesse sem as pernas, como iria fazer? Foi Deus e os bombeiros que me salvaram. Eles merecem nossa gratidão", repetia, emocionado, o pedreiro.


Há 15 anos conhecido no Bairro São Francisco como "Zé da Cobra", por ter escapado com vida da picada de um réptil em suas andanças pelo mato, hoje José Francisco ganhou o apelido de "Zé da Cisterna".


Após o incidente de 2008, tudo indica que José Francisco da Silva é mesmo resistente. Há poucos dias, ao cortar uma árvore, acabou sendo atingido por um galho grosso. Fora a dor de cabeça, ele parece estar muito bem de saúde.



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