Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Eles são melhores que os pais

Jovens que agora se manifestam não apresentam cacoetes autoritários dos militantes do passado recente, diz cientista político ao analisar o Brasil que pode brotar das ruas de 2013

Em artigo que publicamos hoje na seção Fórum, o cientista político Hamilton Garcia de Lima faz uma alentada análise das chamadas “jornadas de junho” e do impacto que elas poderão ter na política brasileira. Discorde-se ou não das colocações do autor, é material que merece atenção de quem pretende compreender o que se passa no Brasil de hoje.
O caminho percorrido por Hamilton reserva várias surpresas. Na contramão de alguns dos seus colegas acadêmicos, que se enfurecem com o ostensivo apartidarismo dos manifestantes de 2013 ou pretendem lhes dar lições de como fazer política, ele dirige às novas gerações um olhar de indisfarçada simpatia. Na horizontalidade e autonomia das manifestações, no apartidarismo e na recusa às lideranças de velho estilo, onde tantos encontraram defeitos, ele descobre uma qualidade que faltou aos militantes dos anos 60 e 70 – vários deles, pais ou mesmo avós da rapaziada que ganhou as ruas nas últimas semanas. Que virtude é essa? Maior espírito democrático.
Nas palavras do autor: “Isso denota um espírito democrático forte dessa geração, se comparada à dos anos 1960-70, quando predominava o sectarismo e a vontade de domínio de um grupo sobre o outro. Os novos movimentos sociais, nesse ponto, parecem muito mais preparados para enfrentar os velhos cacoetes da esquerda do que as velhas organizações, quase todas capturadas por facções e partidos de viés autoritário”.
Como se trata de texto de tamanho bem superior àquele que costumamos respeitar na publicação de artigos, aqui vai uma seleção dos principais trechos para os apressados. Aos quais avisamos desde já que eles não passam de tira-gosto. Melhor ir lá, e degustar na fonte o prato principal. Mas, se você quiser ter uma ideia geral da coisa, começamos agora a abrir aspas.
“No impedimento de Collor, (…) o PT encarnava a crítica a todas as formas de autoritarismo; por isso, foi capaz de liderar a juventude nas ruas contra a captura oligárquica do Estado pelo voto popular. A mobilização vitoriosa, porém, à semelhança de 1968, encontraria a direção equívoca de uma vanguarda divorciada dos anseios populares”.
“Hoje, o quadro que vemos é o de radicalização desse divórcio. Com o PT envelhecido e corroído pelos seguidos escândalos de corrupção, as novas gerações se afastaram ainda mais da militância partidária, e os partidos dissidentes, surgidos antes e depois da degeneração petista, apesar da longa semeadura da revolta popular em que se empenharam, apenas em parte conseguiram atrair a força da juventude desgarrada do petismo e do pecedobismo. Dos partidos moderados de esquerda, apenas a Rede parece vocacionada para angariar simpatias naquele segmento”.
“A nova geração política, ainda tateando o campo em busca de um partido para chamar de seu, inicia seu protagonismo com agências próprias ainda de caráter antipartidário. Isso, ao contrário do que pensam muitos analistas e jovens, está longe de significar a despolitização dessa geração, sendo antes uma nova forma de começo em meio a um ambiente político salinizado, saturado de ideias anacrônicas e mentalidade oportunista”.
“Eis aqui a razão principal para o divórcio entre o povo e os partidos que as novas gerações revelaram de maneira radical, independentemente do programa e da história: a incapacidade generalizada de aprender com a história e se renovar com a vida”.
“A preocupação dos principais setores sociais beneficiários do sistema deriva do que pode vir a acontecer com seu domínio se ao descontentamento atual se juntar, num futuro próximo, a fúria dos afetados por uma crise econômica que, indiferente às esconjuras governamentais e suas alquimias, ameaça incapacitar o Estado a continuar promovendo sua legitimação à base da paz social ou, em outras palavras, de benefícios como o Bolsa Família (cerca de R$ 25 bilhões do orçamento público federal) e o bolsa Miami (cerca de R$ 47 bilhões de evasão de divisas), ameaçado pela depreciação cambial do real, para não falar da potencial insustentabilidade dobolsa juros (cerca de R$ 200 bilhões do orçamento público federal), que devora recursos vitais para a qualidade de vida de milhões de famílias”.
“Não só os partidos oposicionistas de esquerda falharam em seus diagnósticos e terapias; também a intelectualidade jovem faltou ao encontro com as ruas. Essencialmente acadêmica e beneficiária da expansão dos gastos públicos na fase da bonança lulista, (…) deixou de pensar o mundo concreto das coisas em suas contradições para dedicar-se a reforçar a mensagem ideológica progressista do petismo e de sua paz social, seguindo de perto seus mestres encastelados nas agências fomentadoras de carreiras”.
“Vemos agora, em meio a todas essas dificuldades e insuficiências, abrirem-se diante de nós as várias portas políticas cujas chaves pareciam sob o controle do bloco no poder. (…) A primeira dessas portas a investigar seria a democrático-representativa, que, apesar de claramente refletida na postura exibida pela maioria dos manifestantes — não obstante os embaraços ideológicos do anarquismo e do romantismo —, tende a ser aberta de maneira tímida em função tanto dos embaraços implícitos à arquitetura dos novos movimentos, como pela fragmentação e desorientação das forças políticas e intelectuais, oposicionistas e situacionistas, capazes de dar-lhes uma boa direção”.
“Isso tudo acaba beneficiando a porta historicamente mais conhecida entre nós: a nacional-populista, que não apenas é forte em termos culturais, como tem potenciais lideranças mobilizáveis em variados espectros ideológicos. Embora historicamente de caráter socialmente democratizante e politicamente conciliador — ou seja, não necessariamente democrática em sentido político, mas certamente antípoda à tradição elitista republicana —, tal porta costuma se abrir sob o comando de lideranças carismáticas mais capazes de tirar proveito das vantagens eleitorais da desigualdade social do que propriamente de resolvê-las, inclusive usando as dificuldades das soluções para avançar sobre as instituições democráticas por vários vieses, como outrora o fizeram Quadros, Goulart e Brizola nos anos 1960. As hesitações e insuficiências das forças postadas à frente da primeira porta criam boas perspectivas para as forças abrigadas na segunda, sendo já possível divisar, na relativa preservação da popularidade de Lula em meio à crise, um possível fio condutor para a (pseudo)solução eleitoral do impasse, ironicamente em detrimento das forças oposicionistas que reduzem tudo às urnas, com as mesmas regras que não lhes parece urgente mudar”.
“A última grande porta que se apresenta à mão das forças político-sociais ora em movimento era, até há pouco, tida como definitivamente fechada pelos oráculos do regime. Ocorre que de nenhuma perspectiva histórica digna do nome se pode deixar de considerá-la: a porta liberal-autoritária, com seu foco tradicional na manutenção da ‘ordem’ e na expressão eleitoral estritamente controlada da vontade popular por meio de um sistema partidário restritivo e ‘responsável’. (…) De certa maneira, a rebelião da base aliada do governo, depois de junho, prenuncia que o velho camaleonismo partidário começa a ganhar contornos programáticos conservadores tendentes a uma coalizão mais coerente. Mas, para que essa aposta se concretize, é necessário que Aécio ou Campos se credenciem eleitoralmente a liderá-la, visto que Serra e Marina são candidaturas mais controversas em relação ao sentido pretendido”.
“Ansiosos por manterem-se preservados da fúria popular, tanto os políticos como os rentistas atuam com doses maciças de demagogia e publicidade, num esforço de desassociação como grandes beneficiários das políticas públicas de regulamentação frouxa, quer da vida pública, quer do sistema financeiro e sua cobrança extorsiva de taxas de empréstimos automáticos aos setores populares, assim como da imensa dívida pública, cujo custo orçamentário é quase o dobro do investimento público federal (R$ 108,7 bilhões), com significativo impacto sobre a qualidade dos serviços públicos”.
A situação de hoje, em função das largas e profundas distorções produzidas ao longo de mais de duas décadas, exige um esforço reformador quase constituinte, e, deste ponto de vista, é inequívoco o acerto das forças políticas que propuseram a Constituinte específica já. Embora se possa obstar uma série de argumentos políticos e jurídicos, isoladamente válidos, contra a proposta, jamais se pode defini-la como “mera manobra diversionista” diante da gravidade da crise”
“O risco que o PT, em particular, corre sustentando sua proposta de urgência em sintonia geral com as ruas — que, naturalmente, pode esconder pretensões políticas antidemocráticas oriundas de seus setores populistas e extremistas — é o de empurrar sua base aliada conservadora em direção à oposição liberal-conservadora às vésperas de importantes definições de alianças eleitorais, risco este que embute outro de igual potência para os oposicionistas: o de serem identificados com a mesma base parlamentar responsável pela crise — o que encontra confirmação histórica no fato de que a oligarquia política da era petista não ser de natureza diversa daquela do período tucano. No momento, parece claro que a oposição liberal-conservadora aposta suas fichas na aproximação com a base governista em decomposição, sem se importar muito com os odores que ela exala, e já proclama o fim da era Lula sem se dar conta de que é forte candidata a dividir o ônus da crise com o mesmo governo que pretende derrotar nas urnas”.

O futuro do país que começou a nascer em junho

Observadores com diferentes formações profissionais e políticos de vários partidos dão a sua visão sobre os protestos e os efeitos que eles podem ter no futuro do país


Júlia Aguiar
Manifestação realizada em São Paulo no último dia 17 de junho
Publicamos hoje mais um texto sobre o significado das manifestações de rua realizadas no país desde junho e quais podem ser os seus desdobramentos. Desta vez, a contribuição vem do cientista político Hamilton Garcia de Lima.
Ao longo das últimas semanas, levamos ao ar dezenas de artigos e entrevistas com o mesmo propósito: refletir sobre essa nova nação que brotou, quando se menos esperava, do asfalto de várias cidades brasileiras a partir daqueles históricos dias de junho. Como é próprio destesite, a diversidade e o desejo de ampliar o debate deram o tom dessas análises.
Você que está na área há mais tempo sabe que aqui tem lugar pro cardeal e pro coroinha, mas sem barrar a entrada dos evangélicos ou dos ateus. Dizer que não fazemos proselitismo seria mentira. Queremos muito contribuir para melhorar, por mais modestamente que seja, a qualidade da democracia brasileira. Daí, por exemplo, a conclamação que fazemos anualmente à sociedade para que nos ajude a escolher os melhores parlamentares do país. Mas somos irrecuperavelmente apartidários e não estamos querendo empurrar credo ideológico nenhum pela goela de ninguém.
Assim, tiveram – e têm – voz em nossas páginas desde pesquisadores de renome ou políticos de expressão nacional até estudantes mais ou menos anônimos. Pensadores religiosos, filósofos, trabalhadores, empresários, acadêmicos distantes de agremiações partidárias ou militantes de diferentes partidos (muitos dos quais, colaboradores regulares do Congresso em Foco). Entendemos que colocar essa pluralidade de visões e perspectivas à sua disposição é o melhor a fazer para que você tire suas conclusões por conta própria. E, se por acaso você achar que tem algo a acrescentar, manda bala e envia a sua contribuição – em texto, vídeo, foto, charge, o que for – para redação@congressoemfoco.com.br. Será um prazer examinar suas sugestões.
Em ordem alfabética, apresentamos abaixo algumas das pessoas que, como tantos de nós, se empenham no momento em compreender as ruas de 2013 para sondar os caminhos que podem levar ao Brasil de amanhã.
Basta clicar no nome de cada uma delas para ler a íntegra do artigo ou entrevista. Para outros textos sobre o assunto, clique aqui.
Alcides Leite, economista e professor da Trevisan Escola de Negócios
Certo de que as manifestações são produto de uma “crise de gestão pública e não uma crise institucional”, afirma que “o povo está reclamando da relação custo/benefício dos serviços públicos” porque a “impressão geral é que os governos governam para si e não para a população”. Apresenta as bases de um pacto que Dilma deveria propor não à sociedade, mas ao seu próprio governo.

Alfredo Sirkis, deputado federal do PV (RJ), participa da organização da Rede, novo partido da ex-senadora Marina Silva

Analisa o sentimento antipartidário dos manifestantes e, mesmo admitindo que os atuais partidos brasileiros possuem uma “minúscula minoria de pessoas honradas”, afirma que “ainda não se inventou a democracia sem partidos”.

Allan Cotrim e Renato Lima, alunos de mestrado em Brasília
Dizem que as ruas representam “uma reação ao sistema político que se estagnou, envelheceu e se fechou ao diálogo com a população”. Criticam a aversão demonstrada pela maioria dos manifestantes a partidos políticos: “Se as decisões não são tomadas democraticamente, a saída é buscar outro partido (ou até fundar um). Se os partidos não são confiáveis, deve-se mudá-los, renovando-os por dentro, com novo frescor e novos filiados. Esta, sim, seria uma forma popular de se fazer reforma política. Certamente dá mais trabalho e leva tempo, mas quem disse que seria fácil?”.

Antônio Carlos de Medeiros, cientista politico
Para ele, as ruas consumaram a ruptura entre “uma sociedade e economia que se modernizamversus um sistema político arcaico e tradicional, portador do vírus da ingovernabilidade”. O analista também associa o Brasil que foi às ruas e os novos personagens que ele pôs em cena às possibilidades de ação política oferecidas pela internet e pelas novas tecnologias. E acrescenta que atender ao “quero mais” dos manifestantes obrigará os governantes sensíveis ao espírito de época a reverem suas escolhas econômicas e seus cálculos fiscais.

Chico Alencar, deputado federal do Psol (RJ)
Num texto que está mais para a crônica do que para o artigo de análise ou de opinião, diz que “as ruas do Brasil policlassista e a comunicação através da internet não são controláveis” e permitiram “um resgate do coletivo nesses tempos de hiperindividualismo”. Fala que os protestos representam “irupção, não revolução”, mas isso é o bastante para inquietar as autoridades que lançaram mão de violência e as “entidades de trabalhadores e de estudantes, burocratizadas, sempre alheias ao que não tem aval do oficialismo”.

Eduardo Campos, governador de Pernambuco, presidente nacional do PSB e possível candidato a presidente da República em 2014
Endossa o clamor popular com a “degradação da vida pública” e a baixa qualidade dos serviços em áreas como saúde, educação e segurança. Considera restrito plebiscito proposto por Dilma. E apresenta sua visão da crise e as tarefas que ela impõe. Entre elas, destaca a necessidade de ampliar os instrumentos de democracia direta, como maiores facilidades para apresentação de projetos de lei de iniciativa popular e a adoção do recall, que permitiria aos eleitores revogar os mandatos de políticos.

Érika Kokay, deputada federal do PT (DF)
Afirma, em artigo, que as “manifestações expressam, principalmente, um profundo descontentamento com a forma atual da democracia representative”, um momento de crise, mas é também uma oportunidade ímpar, uma oportunidade que não se manifestava há vinte anos, de oxigenarmos e revigorarmos a nossa democracia.

Leonardo Boff, pensador católico
Para Leonardo Boff, a despeito das críticas que possam e devam ser dirigidas “à nossa classe política corrupta” e ao governo Dilma e ao PT, “refém da macroeconomia neoliberal”, tais críticas precisam ser feitas “com critério e senso de medida” para não se levar “água ao moinho da direita”. Esta, conforme a sua análise, segue à espreita, com grande influência nos “meios de comunicação privados e familiares”, e também tentando se infiltrar nos protestos populares, urdindo “tramoias” que poderiam incluir “a volta do braço armado para limpar as ruas” e restabelecer o “velho status quo”.

Marcus Pestana, deputado federal do PSDB (MG)
Destacou o fato de nenhum instituto de pesquisa, cientista social, partido ou intelectual ter captado “o inimaginável potencial que havia no inconsciente coletivo”, que resultou numa “explosão de indignação e cidadania, difusa, surpreendente, instigante, desafiadora”, que não obedece a “um sentido único, reducionista, unilateral”. Conclui: “As ruas querem participar. Ser ouvidas. Isolar os marginais e vândalos. E longe da violência e da demagogia, construir o diálogo nacional necessário para continuar mudando o país”.

Timothy Power, professor da Universidade de Oxford, que estuda o Brasil desde 1990
Na sua opinião, os protestos são produto da insastifação com a má qualidade dos serviços públicos – a começar pelo transporte coletivo – e com todos os politicos e seus partidos, “aí não poupam ninguém”. Ele também remotas as possibilidades de forças políticas à direita se beneficiariem as manifestações, que, no seu entender, ainda não alteram o favoritismo da recandidatura Dilma.

Zé Maria, presidente nacional do PSTU
Acredita que os protestos rompem o quadro de “relativa estabilidade na luta de classes, numa relação de forças amplamente favorável às classes dominantes e controle político bastante forte do governo de frente popular encabeçado pelo PT”. Vê como pano de fundo das manifestações o “modelo econômico aplicado pelo governo Dilma”, que impede o atendimento às necessidades dos trabalhadores e “assegura o privilégio dos bancos, das grandes empresas, das empreiteiras e do agronegócio”. Ironiza “o fantasma do golpe de direita”, invocado por setores próximos ao PT, afirmando que quase toda a direita brasileira integra hoje a coalizão governista liderada por Dilma.


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Um comentário digno de leitura postado no texto desabafo de um 1 Sgt PM

Editorial do Blog:

O comentário que publicamos retrata exatamente o que os praças gostariam de ouvir sobre a Polícia Militar, e mais ainda os cidadãos precisam saber, pois só assim poderemos rediscutir o modelo de organização que queremos para as atuais e futuras gerações de policiais que serão os herdeiros de uma polícia democrática, cidadã e comunitária, mas  sobretudo valorizada, respeitada e transparente.

É de emocionar. Ver tanta gente sendo tratada como CACHORRO por um Estado corrupto e autoritário (que continua mais ou menos assim, por sinal). O respeito, realmente, é devido àqueles que "sobreviveram" a esse período tenebroso (para ser bem eufemista!) que a PMMG teve. Espero que a aposentadoria desses guerreiros, pelo menos, seja sã e tranquila, embora eu saiba que isto é quase impraticável para a maioria daqueles que tiveram sua personalidade e seu senso de dignidade solapados pela brutalidade de um sistema disciplinar torpe e absolutamente desumano. E há quanto tempo foi? 80, 100 anos atrás? NÃO!!! A Constituição de 88 já estava em vigor quando o policial passava fome e apanhava em quartel. Garantias fundamentais? Só para o cidadão. E Policial não era cidadão...

Fica a pergunta: Vejo um monte de livrinhos "didáticos" sobre a história da PM, onde tudo parece ser mil maravilhas. O Sr. Francis Albert, por exemplo, é exímio estudioso dos meandros históricos da Caserna, publicou inúmeros ensaios pomposos, mas... Por que não lançar as entrelinhas dessa história? Reunir depoimentos, documentos, imagens, e mostrar à PM de hoje como a PM de ontem foi uma Instituição absurda, covarde e despótica? Alguém se habilita? Ou aguardaremos o passamento de todos esses injustiçados, para que percamos qualquer o retrato histórico fidedigno desta época?

Ao primeiro "Sargentão", meus cumprimentos e profunda solidariedade pela causa versada.
Ass.: Um Praça "180 milhão".


Fonte: Blog da Renata

Com relação à postagem Desabafo de um 1º Sargento, vai um recado para os críticos

Para quem não conheceu a realidade da Polícia Militar na qual os 1º Sargentos de hoje e seus contemporâneos (em todos os postos e graduações) passaram, vai um pouco da História da PM.   
Para quem nunca passou fome mesmo estando empregado na Polícia Militar; Quem nunca pegou a “OP” e foi para a fila do BEMGE, pegar milhões de cruzeiros em uma pilha enorme de notas e depois ver que não dava para comprar nem um bicicleta Barra Circular à vista (o salário não dava para abrir conta corrente, viu); Quem nunca recebeu o 13º parcelado durante um ano; Quem não trabalhou meses sem receber nada; Quem nunca ficou esperando anunciar que dia (depois do meio do mês) (e se) ia sair o pagamento; Quem nunca precisou sair de casa duas da manhã e pegar ônibus para a chamada 05:30; Quem não viu PM suicidando ao ser preso por furtar lata de leite em pó porque os filhos passavam fome; Quem não foi comunicado disciplinarmente por almoçar no rancho sem estar arraçoado, isto porque não tinha dinheiro para comer; Quem nunca tomou “cinco dias sem declaração de motivo”; Quem não viu o Cb Valério ser morto; Quem não respondeu IPM por causa da greve de 1997; Quem não foi ou viu seu companheiro excluído por causa da greve; Quem não teve a sua contribuição do IPSM desviado pelo Governador.  Inclusive os Oficiais tiveram a contribuição do COPM desviada também; Quem não tomou soco na barriga em forma quando era recruta; fez faxina no quartel antes das aulas; fez curso na PM com aulas durante o dia todo e tirando PO até meia-noite;
MUITO RESPEITO com o pessoal que viveu nestes tempos e lutou para que hoje vocês, recém incluídos (e a todos em geral) possam pagar faculdade, pagar o financiamento de seu veículo, pagar o PROMORAR (que nada mais é que a restituição do dinheiro desviado da previdência dos hoje 1º Sgt e seus contemporâneos, independente de posto ou graduação);
Sem estes Policiais e Bombeiros Militares, que inconformados lutaram contra as injustiças (e fome e necessidades) pelas quais estavam passando, a nossa situação salarial não seria a de hoje, onde antes não tínhamos condições sequer de abrir  uma conta corrente e hoje o comércio, as financeiras e os bancos literalmente correm atrás de nós.
Então, se hoje estes Sargentos em final de carreira ou não (e Oficiais também) são prejudicados por uma prova mal elaborada, é porque muitos não têm muito estudo ou faculdade, têm dificuldades não é por incapacidade, mas porque não tinham dinheiro para estudar, e ainda tinham que morrer no bico ou passar fome...
RESPEITO com este pessoal.
Obviamente que todos têm direito à opinião pessoal sobre qualquer assunto, mas para que esta tenha valor temos que ter conhecimento de causa. Tem muito desinformado que chegou no período de vacas gordas e parece que acredita que nunca vai ser injustiçado.
E para quem não entendeu: A estória é uma ficção. O índice de aprovação nas provas é uma realidade.

Fonte: Blog da Renata

Sinais da destruição do último patrimônio dos praças: O IPSM

"Se antes eram sintomas, agora vemos sinais claros das ações e omissões que levarão o IPSM a completa extinção, avisamos, mas poucos ouviram, e muitos se recusam a ver e acreditar, mais quantas reclamações, e sofrimento de policiais e bombeiros militares e seus familiares, teremos que assistir para nos multiplicarmos nesta luta desigual e injusta."

José Luiz BARBOSA, Sgt PM - RR
Presidente da Associação Mineira de Defesa e Promoção da Cidadania e Dignidade, ativista de direitos e garantias fundamentais, e especialista em segurança pública.




SOCORRO CB JÚLIO, SGT RODRUIIIGUES, IPSM, CMT GERAL. Já enviei para mais de 40 oficiais do IPSM e nenhuma resposta paós 10 dias de enviadas a eles. O que fazer????? O meu filho nasceu com Sindrome de Imodeficiência da Supra Remas, Transtorno Evasivo do Desenvolvimento (TDAH), bem como minha filha também depende de neurologista e o único que tinhamos desconveniou por burocracias importas pelo IPSM, Minha esposa com problema no útero, talvez com risco cirúrgico e nem Ginecologista tem em P. Nova. Estamos entregue a míngua...


Antônio Neves Neves Protocolo 137455968590112830-1307
Data 23/07/2013 03:08

Assunto FALTAM MÉDICOS CONVENIADOS EM PONTE NOVA/MG E REGIÃO
De 2 Ten Neves 21 CIA PM IND

Para Ipsm; 3 Bpm/ipsm; Faturamento Odonto/ipsm; Ipsm/15 Rpm; Ipsm/grs/13 Rpm; Cristiano de Faria IPSM; Patrícia IPSM; Cel Ailton Leoni dos Santos IPSM; Cel Aurelio Terra IPSM; Cel Cloves Ferreira Lima IPSM; Cel Edson Alves Franco IPSM; Cel Gamaliel IPSM; Cel Ezequiel Silva IPSM; Cel Hermes Antonio Pereira IPSM; Cel Jediael Alves Costa IPSM; Cel Magalhaes IPSM; Cel Marcello Tadeu IPSM; Cel Mateus Queiroz IPSM; Cel Matuzail IPSM; Cel Nilson Anastacio de Bastos IPSM; Cel Paulo Adriano Cunha IPSM; Cel Rogerio Ribeiro IPSM; Ten Cel Edmar Simiao IPSM; Ten Cel Erika Mattos Ladeira IPSM; Ten Cel Etvan Geraldo Fonseca IPSM; Ten Cel Ivone Augusta Ramos Catizane IPSM; Ten Cel Marques IPSM; Ten Cel Mauricio de Lima Ramos IPSM; Ten Cel Orlando Jose Silva IPSM; Ten Cel Primo Lara de Almeida Junior IPSM; Ten Cel Rildo Marcelo Alves IPSM; Ten Cel Sergio Murilo Jardim IPSM; Ten Cel Sergio Ricardo IPSM; Ten Cel Simil IPSM; Ten Cel Ubirany Tibirissa de Oliveira IPSM; Maj Afonso de Oliveira Farias IPSM; Maj Alberto Salazar IPSM; Maj Alessandro Ramos IPSM; Maj Anderson de Almeida IPSM; Maj Andrassy Teixeira Celeste IPSM; Maj Andre Humia Casarim IPSM; Maj Andreia Batista IPSM; Maj Azeredo IPSM; Maj Eduardo Lauria Manhaes IPSM; Maj Farley Rocha Soares IPSM; Maj Gerard Lopes La Falce Junior IPSM; Maj Gilberto Nascimento Lino IPSM; Maj Henrique IPSM; Maj Humberto Elisiario da Cunha IPSM; Maj Janice IPSM; Maj Kenia Prates IPSM; Maj Luciana IPSM; Maj Luiz Carlos IPSM; Maj Manoel dos Reis Moraes IPSM; Maj Moises IPSM
Protocolo 137366783242112830-1307 
Data 12/07/2013 19:23 

Assunto Faltam médicos conveniados em Ponte Nova
De 2 Ten Neves 21 CIA PM IND 


Senhores e Senhoras 
Em alusão aos comentários citados na MSG abaixo, enviada pelo Sr. Eduardo Mendes de Sousa, Cel PM QOR - Diretor - Geral do IPSM, MSG essa de Protocolo 1370394713280424-1306 de 04/06/2013 22:11 
Assunto Contribuição previdenciária de militares inativos 
De Comando Geral 
Para PMMG ( todos ) MENSAGEM DE INTERESSE GERAL PARA OS MILITARES ESTADUAIS 

1 . Queria ressaltar algumas argumentações e situações vividas por militares do interior, primordialmente no que diz respeito a saúde, como por exemplo aqui em Ponte Nova/MG, pois pago quase R$1.000,00 entre plano saúde, contribuição complementar e básica e mesmo assim os médicos estão correndo contra conveniar-se com o IPSM que por burocracia deixam de fazê-lo. A mesma burocracia que me fez perder o financiamento da casa própria pelo IPSM que por causa de habite-se perdi. No interior 99% dos imóveis não tem habit-se e os pouquíssimos que tem já são proprietários e não interessam vender. Em BH com certeza 99% tem habit-se, ao contrário do interior. Perdi dinheiro e depois de aposentado, só isso que a PMMG me deu, PREJUÍZOS financeiros e outros. 

2 . Vocês acham que a capital é igual ao interior, mas não. Vocês tem milhões de conveniados ai em BH entre médicos, clinicas, hospitais, etc, etc, etc. No interior são poucos e os que tem estão indo "embora" desconveniando por causa da burocracia (ISS junto prefeitura, etc que não tem nada a ver até ano passado).

 3 . Quanto a médicos conveniados queria ressaltar que em 03 meses minha esposa teve que trocar de ginecologista por 03 (três) vezes e agora não se tem nenhum conveniado, Vejam o que fazem conosco, nossas esposas e família e, além de tudo ela esta com exames de um problema que poderá talvez a ter que tirar o útero e ela é jovem e só tem 30 anos, mas o descaso pelo vir a causar complicação na atual situação referernte esses exames e causar algo pior e quem vai pagar, os senhores coronéis, ten cel e maj (a cúpula) que além de usufruir do que os praças criaram, servem de cabide de emprego e possuem todas as mordomias para vocês e seus familiares ai ma capital e cidades grandes do interior. 


4 . Meu filho, minha esposa, eu e minha outra filha ficamos sem neurologista/neuro-pediatra, pois o Dr. Marco Antônio tentou verificar situação de documentos para renovar o convênio com o IPSM, documentos esses junto a prefeitura (salvo engano ISS) e como não obteu, preferiu mandar uma careta dizendo que tinha outros projetos e não queria mais renovar o convenio. 04 pessoas de minha família prejudicados, imaginem outras famílias de militares de Ponte Nova e região. Não temos nenhum outro neuro-pediatra ou neurologista conveniado na região e se tiver que locomover para capital, quem é que paga passagem ou gasolina, alimentação, pousada e o tempo perdido, além do que como conseguir todo mês receita dos medicamentos e em caso de algum problema mais sério e emergente, como seu médico poderá vir a ponte nova para acompanhar-nos. Temos que pagar, além de IPSM, mais R$250,00 por cada consulta particular com tal especialista (se tinha outros planos, esses eram aqui mesmo, pois continua a nos atender, só que particular). 

5 . A cerca de 02 anos eu iniciei um tratamento com uma médica em Ponte Nova e ela exigia as assinaturas das 04 sessões de uma vez atrás da guia do IPSM, sendo que certo dia ela chegou cerda de 25 minutos após tal consulta e eu tinha que levar meu filho de 03 anos (na época) para uma outra consulta e essa médica disse que por ser baratas as consultas eu iria por vezes consultar 02 vezes no mês e mesmo assim assinasse as 04 consultas e que a que ela não me atendeu, ela não reporia. Denunciei por escrito ao Cmdo da 21ª Cia IInd. PM. Uma outra PFem teve problema idêntico com tal médica e a médica foi furtada, sendo que furtaram objetos dela no interior do carro, sem ela estar no veículo e era dia e hora da consulta da PFem (que nada tinha a ver com o ocorrido), sendo prejudicada, pois a médica não repôs a consulta, sendo que o sindicante disse que haviam outras reclamações por parte de outros PM e sabem o que aconteceu? Nada! Ela atende normalmente até hoje e quem foi prejudicado foram os clientes PM, a PMMG pois atrapalhou o tratamento de PM que com menos seções tiveram que prolongar o tratamento e menos militares nas ruas, bem como o IPSM que pagou consultas indevidas e/ou não realizadas. Vários militares e familiares não mandam seus familiares para tratar com ela (psicologa), não tendo nenhum outro conveniado. Agora meu filho de 05 anos precisa, por rejeição a atual professora, de tratamento psicológico e com tal situação acima tenho que pagar particular ou esperar uns 04 a 06 meses para uma vaga no SUS. 

6 . Minha filha de 16 anos e eu tivemos que fazer tratamento pelo SUS, pois não tinha nenhuma dermatologista conveniada até 01 ano atrás, só conseguindo o convênio, pois um (a) militar que trabalhava na SAS precisou. 
7 . Tentei para de fumar a 02 anos e 01 mês e não tínhamos e nem temos nenhum pneumologista ou médico alusivo/especialista a tal tratamento.

 8 . Poxa, estamos pagando R$ 700,00 de contribuição e outros, totalizando com IPSM mais de R$1.000,00 ao mês e cerca de R$ 12.000,00 ao ano e sem retorno satisfatório. Além de várias consultar particulares só este ano que já me levaram mais de R$1.000,00. É assim que fazem com as nossas famílias que ficam a míngua e quase morrendo em certas situações como expliquei no item 3. Será que não tem coração não ou é somente uma máquina registradora de dinheiro no peito. 


9 . Por isso eu digo, o IPSM foi criado por PRAÇAS e quem usufrui a contento dão os oficiais, ainda mais após reformarem, onde servem de "cabide de emprego". E os SENHORES (Deuses) + O ipsm ESTÃO PREJUDICANDO SEGURADOS E DEPENDENTES DO INTERIOR. Somos militares também, ainda que da reserva e será que os reformados que entraram na justiça para diminuir o valor da contribuição previdenciária/ipsm estão errados??????????????????????????????????????????????? 

10 . Se algum membro segurado de minha família tiver que pioras dos problemas que já tem por falta der assistência ou uma nova doença e não tiver médico conveniado e se tiver longe e não custearem as despesas, vou processá-los, pois é só assim que as coisas "andam", isto se tiver um juiz que não tenha "vinculo" de puxa-saquismo com coronéis, pois é o poder e o dinheiro que mandam, infelizmente neste Paísinho... 

11 . Somos PAIS de família e não queremos nossas esposas e filhos sofrendo por causa de burocracias inadimissiveis, pois nem os melhores planos do País como UNIMED não exigem coisas banais como esse tal ISS com prefeitura. Se sua esposa e seus filhos morrem por falta de assistência, o que os senhores (Cel, Ten Cel, Maj, Cap e Ten do IPSM) fariam?????????????????????????????????? 

ANTÔNIO GERALDO NEVES DE SOUZA - Sub Ten PM (na ATIVA, pois reformado não é nada, é pior que recruta - vale menos que cachorro).

Fonte: facebook


Desmilitarização prós e contras, debatem especialistas




Após a denúncia de que um manifestante teria sido preso injustamente na última semana, no Rio de Janeiro, o governo do estado admitiu que a polícia precisa ser mais bem preparada para lidar com os movimentos sociais. Essa não é a primeira vez que a ação policial junto à sociedade é questionada no estado. Em junho, uma ação da Polícia Militar deixou pelo menos 
dez mortos no Complexo da Maré. Entre manifestantes e grupos da sociedade civil organizada a discussão é ainda mais profunda e tem como foco a desmilitarização da Polícia Militar e a unificação com a Polícia Civil.
O assunto não é novo, tanto que duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC 102 e PEC 430) tramitam no Congresso Nacional sobre o tema. Para entender melhor os prós e contras de se adotar a postura, o Repórter Brasil, da TV Brasil, promoveu um debate na última semana sobre o tema. Ernani Lucena, vice-presidente Federação dos Policiais Civis do DF, e Alexandre Ciconello, advogado especialista em direitos humanos, analisaram a formação policial brasileira.
Os participantes defenderam a desmilitarização como forma de aproximação da Polícia Militar com a sociedade civil. Eles divergiram, no entanto, a respeito de uma unificação simplificada entre as polícias –  defendida pelas propostas de modificação da legislação em tramitação – e das mudanças de formação necessárias para os grupos. “A militarização significa que a Polícia Militar é treinada para enfrentar um inimigo, uma batalha”, destacou o advogado Alexandre Ciconello.
Já Ernani Lucena enumerou resquícios considerados oriundos do período da Ditadura Militar na formação atual da PM brasileira. “Tem um resquício de seu treinamento e de como ela foi concebida. A PM hoje é um reduto de proteção dos governos estaduais, está calcada na obediência. O comandante determina e os subalternos são obrigados a obedecer. Ela não está sendo ponderada, como também a Polícia Civil tem seus problemas”, disse. “Há aproximadamente 60 cargos dentro da Polícia Civil em todos os estados”, complementou. (EBC).
Duas PECs tramitam no Congresso Nacional com o intuito de desmilitarizar a Polícia Militar e unificá-la à Polícia Civil. Policiais negam que formação militar contribua para atitudes policiais violentas (Fernando Frazão/ABr)

Entenda o que é a desmilitarização da polícia:

Com as manifestações que ganharam as ruas do país desde junho e os episódios de violência na atuação da Polícia Militar registrados em algumas ocasiões, a desmilitarização das polícias estaduais voltou a ganhar espaço no debate público. Em maio de 2012, a Dinamarca chegou a recomendar, na reunião do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que o Brasil extinguisse a Polícia Militar. A ideia, no entanto, foi negada nacionalmente por ferir a Constituição Federal de 1988 e a dúvida permaneceu sobre o que de fato significaria uma proposta pela desmilitarização.
A divisão entre polícia Civil e Militar sempre existiu no Brasil. A atribuição de cada grupo está explícita no artigo 144 da Constituição Federal de 1988. Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, cabem as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. Já às polícias militares cabem o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública. “Antes da ditadura militar, existiam polícias Militar e Civil, mas a Civil também desempenhava papel ostensivo. Foi com a ditadura que as atribuições da Polícia Civil foram se esvaziando e a Militar tomou para si toda a parte ostensiva”, destaca o professor de direito penal Túlio Vianna, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A proposta de desmilitarização consiste na mudança da Constituição, por meio de Emenda Constitucional, de forma que polícias Militar e Civil constituam um único grupo policial, e que todo ele tenha uma formação civil. “Essa divisão atual é péssima para o país do ponto de vista operacional, pois gasta-se em dobro, e é ruim para o policial, que precisa optar por uma das carreiras”, explica Vianna.
Uma das críticas feitas à militarização da polícia é o treinamento a que se submetem os policiais militares. “As forças armadas são treinadas para combater o inimigo externo, para matar inimigos. Treinar a polícia assim é inadequado, pois o policial deve respeitar direitos, bem como deve ser julgado como um cidadão comum e não por uma Justiça Militar”, argumenta o professor da UFMG. “Grande parte dos policiais militares que são praças também defendem essa ideia da desmilitarização já que eles são impedidos de acessar garantias trabalhistas, além de terem direitos humanos desrespeitados”, afirma Vianna.
Para o coronel reformado da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e ex-secretário de segurança do DF, Jair Tedeschi, entre os militares, a posição é outra: a ideia de desmilitarização policial é uma “falácia”, defende. “O que querem é quebrar a disciplina e a hierarquia que existe em qualquer organização. Não é porque a polícia é militar que age puramente como militar. A função dela é civil. As suas bases de disciplina e hierarquia que são militares”. O coronel avalia ainda que “o policial militar de hoje sabe distinguir quem tem direitos e deveres. Na rua, é obrigado a tomar decisões”, observa.
A formação atual do policial, segundo o coronel Tedeschi, abrange o conceito de humanização. “Hoje a polícia é completamente diferente, isso foi na década de 1960. As academias ensinam segurança pública. Desde 1988 a polícia vem mudando a sua maneira de agir. Ela está na rua, não nos quarteis. Ela interage com a sociedade, não cumpre a lei porque tem que simplesmente cumprí-la, mas age da forma mais democrática possível”, avalia o coronel Tedeschi. Para o coronel, “desvios de comportamento ocorrem em condições isoladas em vários grupos. Na situação atual não vemos isso só na Polícia Militar, mas também na Polícia Civil e em outros segmentos não militares”, aponta.
Atualmente, dois projetos de Emenda à Constituição (PEC) circulam no Congresso Nacional em defesa da desmilitarização da polícia. A PEC 102, de 2011, de autoria do senador Blairo Maggi (PR/MT), autoriza os estados a desmilitarizarem a PM e unificarem suas polícias.” Ela não faz especificamente a unificação e a desmilitarização, mas autoriza que cada estado federado possa fazê-lo caso julgue necessário”, explica Vianna. A PEC está em tramitação no Senado.
Já a PEC 430, de 2009, em tramitação na Câmara dos Deputados, visa a unificação das polícias Civil e Militar dos Estados e do Distrito Federal, além da desmilitarização do Corpo de Bombeiros, bem como dá outras funções para as guardas municipais. A proposta é de autoria do deputado federal Celso Russomanno (PP-SP). (EBC).


O Black Bloc e a resposta à violência policial

Sociedade

Manifestação


O Black Bloc não é uma organização e sim uma forma de protesto estética baseada na depredação dos símbolos do estado e do capitalismo
por André Takahashi 
NELSON ALMEIDA / AFP PHOTO
black bloc sp
Manifestantes durante ação, na terça-feira 30, contra concessionária de carros de luxo em São Paulo
Durante o mês de junho as manifestações massivas contra o aumento das tarifas fizeram emergir novas dinâmicas no cenário político brasileiro, uma renovação da organização social que questiona os limites legais do status quo. A inovação e o choque desse outono de 2013 aconteceram porque a desobediência civil - tática histórica de movimentos contestatórios - teve uma aceitação popular jamais vista no Brasil desde a proclamação da república (sempre é bom lembrar que a proclamação da república foi uma quebra da institucionalidade).
Surgiram alternativas de luta, cada qual com suas táticas. A ação direta não violenta das multidões veio em Porto Alegre no levante contra o aumento das tarifas, reforçado pelo Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo. Foram bloqueios de vias, abertura de catracas, escrachos (denúncia públicas de pessoas acusadas de violações de direitos, como ex-agentes da ditadura) e ocupações de prédios públicos.
São ações questionadoras da ordem que, em muitas ocasiões, despertam resposta violenta da polícia e tentativas de criminalização por parte da grande mídia. Ao mesmo tempo, essas ações se colocam diretamente contra o Estado e os efeitos da exclusão econômica, partindo sem intermediários para a disputa do modelo de sociedade.
Black Bloc. Paralelo a essa estratégia - e independente do MPL e congêneres - se manifestou nesse período a tática do Black Bloc, em grande parte como resposta à violência policial. O Black Bloc é composto por pequenos grupos de afinidade, muitas vezes feitos na hora, que atuam de forma independente dentro das manifestações. Mas, ao contrário do MPL, o Black Bloc não é uma organização ou coletivo e sim uma ideia, uma tática de autodefesa contra a violência policial, além de forma de protesto estética baseada na depredação dos símbolos do estado e do capitalismo. A dinâmica Black Bloc lembra mais uma rede descentralizada como o Anonymous do que um movimento orgânico e coeso.
Utilizada primeiramente pelos movimentos autonomistas da Itália e da Alemanha, é muito presente na Europa e EUA, e mais recentemente nos países árabes, mas nunca havia encontrado condições para se desenvolver em solo brasileiro.
O primeiro sinal de propaganda Black Bloc no país ocorreu no início dos anos 2000, durante o surgimento do movimento anticapitalista global (antiglobalização), mas foi descartado pelos ativistas autônomos da época por avaliarem a ação direta não violenta, manifestada principalmente nos protestos contra a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), estrategicamente melhor para o cenário brasileiro. Anos depois essa opção pela ação direta não violenta combinada com trabalho de base, organização horizontal e uso intensivo da internet influenciou a criação do MPL e outros movimentos autônomos, como a Bicicletada, o Centro de Mídia Independente e o Rizoma de Rádios Livres.
No entanto, a ideia do Black Bloc nunca morreu, manifestando-se em escala menor e de forma bem isolada em manifestações anteriores. Nada muito significativo ou mesmo duradouro, sendo impulsionado por elementos anônimos que não deram continuidade à sua atuação. Mas a ideia estava lá, sempre lá, e na primeira oportunidade se manifestava em algum canto do País, geralmente como recurso para a autodefesa.
Violência policial e autodefesa. Em junho o cenário de manifestações criou um ambiente favorável para o florescimento do Black Bloc brasileiro na sua forma de autodefesa. Em diversas capitais as mobilizações extrapolaram a capacidade organizativa dos grupos e movimentos que as desencadearam, criando movimentos multicêntricos onde cabem diversas estratégias, táticas e narrativas mobilizadoras. Como na maioria das cidades esse crescimento veio pela solidariedade popular pós-repressão, é coerente afirmar que a violência policial foi o fermento da indignação que levou a população às ruas no auge das jornadas de junho; e serviu como justificativa moral, segundo seus defensores, para a disseminação descentralizada da tática Black Bloc.
Reações de autodefesa começaram a surgir no meio da massa de manifestantes, de forma cada vez mais organizada. No Rio de Janeiro, devido à intensidade da repressão e às condições geográficas e sociais da cidade, que aproximam bairro e favela, jovem de classe média e jovem da periferia, a intensidade da repressão policial e da resposta dos manifestantes foi maior.
Apoio aos irmãos cariocas. Recentemente, na sexta-feira 26 de julho, houve um ato na avenida Paulista denominado "Ato em apoio aos irmãos cariocas versão sem pelegos". Esse ato pode ser considerado um ponto de virada na narrativa do Black Bloc brasileiro. Pela primeira vez a ideia e a tática se manifestaram em sua plenitude na forma da manifestação direcionada para a destruição de propriedades privadas e públicas. Cerca de 300 pessoas percorreram o trajeto do Masp até a 23 de Maio destruindo bancos, bases policiais e veículos da mídia hegemônica. A polícia acompanhou a movimentação de longe, alegando esperar o reforço da Força Tática para iniciar a dispersão do ato.
Na terça-feira 30, o ato chamado pelo Facebook, reuniu manifestantes contrários ao governador paulista, Geraldo Alckmin, e ao governo de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro. Alguns manifestantes picharam paredes, quebraram o vidro de uma concessionária e de agências bancárias na região. A Força Tática e a tropa de Choque da Polícia Militar seguiram atrás dos manifestantes.
A retomada da polícia já havia sido prometida na página da Secretaria de Segurança Pública na internet, com o órgão dizendo que a PM agiria “com a energia necessária para evitar atos criminosos,” após agências bancárias e bases policiais terem sido danificadas na avenida Paulista na última sexta-feira. Com a ação de 220 oficiais, segundo a própria corporação, foram detidos 20 manifestantes. Destes, cinco ainda continuam presos por suspeita de formação de quadrilha, resistência à prisão, desacato e dano ao patrimônio público.
Os protestos recentes e especificamente as manifestações Black Bloc têm sido usados como pretexto para pautar soluções repressoras. A mídia tem feito o trabalho de recortar as imagens de depredação e confronto sem o mínimo de contextualização, imprimindo a narrativa que melhor lhe convém, e muitas vezes criminalizando pessoas não envolvidas nos confrontos. Do outro lado, iniciativas midialivristas e os demais veículos de esquerda têm trazido outros pontos de vista sobre a questão, forçando uma pequena mudança na linha editorial dos meios hegemônicos como demonstrou o caso do ativista carioca Bruno, incriminado injustamente de ter atirado molotovs na polícia.
Vale nos questionarmos como o Black Bloc vai impactar na disputa de imaginário da sociedade e como o estado e os demais movimentos vão lidar com essa novidade política. Com a expansão dessa tática será possível realizar novas ações diretas não violentas de multidão, convocadas pela internet, sem essas terminarem, necessariamente, em confronto físico?
Como diferenciar o Black Bloc do agente provocador infiltrado, que está na manifestação apenas para criar fatos que justifiquem a repressão? A suspeita sobre os P2 levanta outra questão: até que ponto a violência por parte dos manifestantes serve aos interesses de determinado governo?
Cada caso é um caso, e só nos resta avaliar cada conjuntura com lucidez, a fim de que não sejamos levados a tomar opinião direcionados por interesses ocultos. Formação política, clareza dos objetivos e capacidade de análise de conjuntura serão dos fatores determinantes para o futuro da ação direta urbana no Brasil, seja ela violenta ou não violenta.

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