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O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Pare de se importar com o futebol brasileiro. Ele não se importa com você


Vamos considerar que você é jovem e promissor jogador de futebol. Você resolveu romper o ciclo dos jovens e promissores jogadores de futebol – a titularidade pelo mínimo de tempo possível até surgir uma boa proposta para jogar em qualquer lugar da Europa e conseguir aquele contrato que pode te manter pelo resto da vida. 
Você decidiu que quer ser ídolo nacional, exemplo para as crianças e levar seu time para conquistar títulos. Você quer ser algo parecido com o Neymar do Santos – pensar primeiro em ser feliz e campeão no seu espaço, depois negociar com um grande clube europeu. Só que você nasceu em Goiás.
Vamos considerar que o time goiano montou um projeto em torno de você e você corresponde às expectativas. Depois de muito trabalho duro, seu time conseguiu uma excelente posição no campeonato brasileiro de pontos corridos. Chegou à Copa Libertadores da América. No ano seguinte, o seu time vai ganhar os mesmos R$ 30 milhões de cotas de TV (e você só sabe disso pq um dirigente lhe contou; os números são secretos) enquanto o Flamengo e o Corinthians, que ficaram várias posições abaixo do seu time no Campeonato, vão ganhar R$ 170 milhões (segundo fontes seguras, já que os números seguem secretos). Você recebe uma proposta para ganhar o dobro de salário em um desses clubes, mas o que quer mesmo é ser campeão da Libertadores pelo time goiano. 
Você é um ídolo local. Políticos te abraçam, crianças param para tirar fotos, você tem uma boa casa, uma fazenda, mas ainda ganha pouco para um futuro craque do seu tamanho. Só que tudo dá certo no seu time e seu time chega à semifinal da Copa Libertadores da América, mesmo com o orçamento pequeno em comparação aos outros clubes. Você é um dos jogadores mais promissores do Brasil e está a poucos jogos de conquistar o máximo que seu clube pode conquistar no futebol. Só que apenas o seu Estado, a sua cidade, vão ver esse jogo. O resto do país vai ver um jogo qualquer do Flamengo ou do Corinthians por uma competição menor.
É bom ter esse exemplo fictício em mente quando surgir na sua tela de computador ou celular a próxima tese tentando salvar “o futebol brasileiro” da “desgraça”. A cada derrota da Seleção essa tese surge novamente. A cada fiasco de algum clube brasileiro reaparecem as cassandras que relacionam todas as derrotas que aconteceram nos últimos 10 anos, como se os times fossem os mesmos, os técnicos pensassem igual e a preparação antes do jogo não tivesse qualquer diferença.
Vamos falar a real, aqui, entre nós: PAREM de se importar com o futebol brasileiro. Apenas PAREM. O futebol brasileiro não se importa com você.
O futebol brasileiro é administrado por uma confederação que se importa apenas e tão somente com render o máximo de lucro político para seus eleitores (as federações) e o máximo de lucro financeiro para si própria (através da Seleção Brasileira).
Os dirigentes do futebol brasileiro se importam apenas e tão somente com tentar manter seus clubes vivos (vendendo jogadores e pedindo dinheiro das cotas de TV) e, quem sabe, conseguir algum prestígio pessoal através dos títulos conquistados.
Todo o sistema do futebol brasileiro, toda a engrenagem, é montada para conquistar dinheiro em cima do clubismo. Durante algum tempo esse “clubismo” se estendeu à Seleção Brasileira, através de um imaginário construído artificialmente de “unidade nacional” em cima de um time que vestia amarelo e praticava o “jogo bonito”.  Uma identidade que durante anos dependeu dos grandes craques construídos no Brasil. Hoje, além disso, depende de títulos. O “torcedor da Seleção Brasileira” não se contenta com qualquer coisa a não ser o título da Copa do Mundo – jogando bem. Que é apenas o patamar mais alto de qualquer Seleção mundial. Sabendo disso, a CBF vendeu – e vendeu bem – a Seleção Brasileira para patrocinadores internacionais em mercados de alto patamar de consumo de futebol, e é por isso que você vê o time amarelo jogar mais vezes no Emirates Stadium que em qualquer estádio brasileiro.
O clubismo também leva a divisão de cotas de TV garantir R$ 110 milhões (os dados nunca foram divulgados oficialmente) para Flamengo e Corinthians, independente de qual será o resultado esportivo desses dois clubes nos próximos dois anos. É também o clubismo que faz os clubes almejarem seu sustento em cima de programas vigorosos de sócio-torcedor, que premiam a fidelidade e a estabilidade financeira de quem pode pagar uma boa grana por mês a fim de ter um lugar no estádio. 
O clubismo, entretanto, tem uma diretriz: é o torcedor pensando no que é bom para o seu clube. E o que é bom para o seu clube, em uma boa parte das vezes, é ruim para todos os outros. Em um cenário dominado pelo clubismo, dirigentes correm como zebras selvagens atrás de suas pequenas partes no grande bolo de dinheiro dos prêmios e das cotas de TV, enquanto tentam o apoio de seus torcedores para ganhar impulso. Todo o restante do espetáculo, inclusive o mérito esportivo, é deixado de lado. Quem tem mais torcida ganha e deita na cama. O resto que se vire.
Esse modo de pensar é tão arraigado no futebol brasileiro que os torcedores não só aceitam, como defendem. Quem se importa com a Libertadores? Meu time vai jogar! Quem se importa no duelo entre vice líder e líder do campeonato? Não dá audiência! Quem se importa com uma competição oficial de clubes? Tem Brasileirão no mesmo horário! Quem se importa com o futebol? Eu tenho meu time!
Eu poderia dizer agora que essa lógica do “eu primeiro” está levando o que chamamos de “futebol brasileiro” para o buraco definitivo. Porém, não direi. Direi apenas que é perda de tempo se importar com quem só se preocupa em salvar o seu.
Vá se importar com algo realmente útil. Com a política, a economia, as chuvas, os esportes nos quais brasileiros brilham no Pan-Americano, os heróis de hoje que serão considerados fracassados nos 15 dias em que o torcedor se importar com eles, no próximo ano de 2016. Vá ajudar o basquete, o vôlei, o handebol, o hóquei na grama, o atletismo, a natação, o judô, a crescer. Vá se associar em algum clube multiesportivo que ajude a tirar jovens da pobreza e colocar no esporte – coisa que a CBF poderia fazer com o seu orçamento milionário, mas não faz. Mas não se preocupe com o que poderíamos chamar de “futebol brasileiro”. Se ele não importa nem para quem lucra com ele, por que você se importaria?

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